“A infância só dura 12 anos”: psicóloga alerta para os riscos da adultização infantil

Após a repercussão do caso envolvendo o influenciador Hytalo Santos, investigado pelo Ministério Público da Paraíba (MP-PB) e pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) por exploração e exposição de menores em conteúdos digitais, o debate sobre a adultização infantil ganhou destaque nacional. O Portal R10 entrevistou a psicóloga Ester Isabel Pinheiro Galvão (CRP 21/01056), especialista em crianças e adolescentes, saúde mental e substâncias psicoativas (SPA’s), que explicou o conceito, os riscos e os caminhos de prevenção.
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O que é adultização infantil?
Segundo a psicóloga,
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“A adultização infantil é o fenômeno pelo qual crianças ou adolescentes são expostos prematuramente a comportamentos, responsabilidades e expectativas típicas do mundo adulto, sem terem maturidade emocional, cognitiva ou social para lidar com essas demandas.”
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Historicamente, Ester lembra que, na Idade Média, não havia distinção clara entre infância e vida adulta — crianças eram tratadas como “adultos em miniatura”. Essa concepção só mudou no século XVIII, quando a infância passou a ser reconhecida como uma etapa do desenvolvimento humano com necessidades próprias.
Hoje, esse processo é acelerado pela internet, pela publicidade e pela cultura pop, que expõem crianças a padrões adultos em escala global.
Sinais de que a criança está sendo adultizada
Entre os principais indícios, a psicóloga aponta:
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Uso de roupas, maquiagem ou acessórios sexualizados;
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Imitação de coreografias, falas ou gestos com conotação erótica;
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Exposição a conteúdos adultos sem mediação;
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Adoção precoce de padrões de beleza;
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Falta de espaço para o brincar livre.
“As redes sociais intensificam a exposição e aceleram a percepção de maturidade, impondo padrões adultos às crianças.”
Impactos emocionais e riscos sociais
Ester alerta que a erotização precoce aumenta a vulnerabilidade das crianças, pois a maturação afetiva não acompanha a exposição.
“Podem gerar ansiedade, depressão e baixa autoestima ao impor padrões inalcançáveis. A erotização precoce aumenta a vulnerabilidade à exploração, pois a maturação afetiva não acompanha a exposição.”
As consequências vão além da infância: ansiedade, dificuldades de socialização, queda no desempenho escolar e, na vida adulta, vínculos frágeis e cansaço emocional crônico. Do ponto de vista das neurociências, essa sobrecarga prematura interfere na formação da identidade e no desenvolvimento saudável das funções executivas do cérebro — áreas ligadas ao controle emocional, planejamento e tomada de decisões.
O papel dos pais e da sociedade
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é explícito ao afirmar que a proteção das crianças não é apenas responsabilidade da família, mas também da sociedade e do Estado. O artigo 4º estabelece:
“É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.”
Nesse sentido, Ester reforça a necessidade de vigilância ativa dos pais e responsáveis:
“Troca repentina de modo de vestir ou falar, interesse por conteúdos adultos, redução do brincar e aumento de responsabilidades domésticas ou emocionais” são sinais de alerta que não podem ser ignorados.
Ela também pede cautela ao publicar imagens de crianças na internet:
“Evitar fotos sexualizadas, divulgar dados pessoais ou romantizar comportamentos adultos nas redes.”
Redes sociais e classificação indicativa
A especialista lembra que o Ministério da Justiça e Segurança Pública atualizou a classificação indicativa do Instagram para 16 anos, enquanto TikTok permite acesso a partir dos 14 anos, Facebook dos 16 e X/Twitter apenas para maiores de 18.
“A classificação é indicativa, não proibitiva, e serve para orientar pais sobre riscos e proteção.”
Uso saudável do digital
Ester é categórica:
“Redes sociais não são feitas para crianças. O uso deve ter supervisão ativa, seleção criteriosa de conteúdo e tempo limitado. O ideal é incentivar brincadeiras, leitura e interação presencial.”
Ela cita ainda o guia “Crianças, adolescentes e telas”, lançado pelo governo em março de 2025, como recurso fundamental para orientar famílias e escolas.
A brevidade da infância
A psicóloga finaliza com uma constatação que requer cuidado e atenção por parte de pais, cuidadores e toda a sociedade.
“A infância é um direito fundamental e breve, só dura 12 anos. A adolescência, seis. Proteger esse tempo significa garantir espaço para brincar, criar e socializar sem pressões, mediando o acesso ao digital com senso crítico e supervisão contín
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