'Não é só Trump, é o governo americano pressionando o Brasil', diz cientista politico

O tarifaço anunciado pelo governo Trump, que estabelece sobretaxa de até 50% sobre produtos brasileiros como aço, alumínio, café, e carne, acendeu um alerta em Brasília e nos setores produtivos. A decisão, que passou a valer oficialmente nesta quarta-feira (6), foi interpretada por analistas como um recado político à gestão Lula, que vinha apostando no crescimento das relações diplomáticas com paises que integram os BRICs.
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Em entrevista exclusiva ao Portal R10, o cientista político Cleber de Deus, Pós-Doutor pelo Ibero-Amerikanisches Institut de Berlim e professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), analisou o recente aumento tarifário imposto pelos Estados Unidos ao Brasil e a vinculação feita por Donald Trump entre a medida, a Lei Magnitsky e o julgamento de Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
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Trump também associou o endurecimento comercial com o Brasil à aplicação da Lei Magnitsky, legislação norte-americana voltada a sanções contra indivíduos e entidades envolvidos em corrupção ou violações de direitos humanos, o que elevou ainda mais o tom do conflito político-diplomático. O nome de Jair Bolsonaro também foi citado no contexto das declarações, o que adiciona camadas à já conturbada conjuntura interna brasileira.
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Segundo Cleber, é um equívoco interpretar esse movimento como um ato isolado de Donald Trump.
“Isso não é um posicionamento isolado do Donald Trump, é o governo americano. Nós personalizamos as relações entre países e isso é relação diplomática. No fundo, a questão é a aplicação de uma lei global [Lei Magnitsky] contra atentados ou atos que burlem ou estejam interferindo indiretamente em decisões tomadas pelo governo americano. Não é a primeira vez, Biden aplicou isso com toda a Suprema Corte da Venezuela por violar direitos humanos, perseguição política, violações de tratados internacionais, etc. Então não é uma questão isolada do governo ou do ex-presidente Bolsonaro”, explicou.
Tarifas como ferramenta geopolítica
Sobre o aumento das tarifas para produtos brasileiros, Cleber destacou que a medida está inserida em um processo maior de reorganização da geopolítica mundial.
“A questão da tarifa dos 50% é aplicada porque há uma reorganização da política mundial. A primeira grande potência é os Estados Unidos, por mais que se diga o contrário. Índia, China e Rússia tentam negociar as tarifas e o Brasil, uma figura menor no contexto internacional, quer pautar ou enfrentar o que não pode”, afirmou.
Efeitos na imagem do governo Lula
Questionado sobre os impactos do tarifaço na imagem do presidente Lula, que tem crescido nas pesquisas recentes após o tarifaço, o cientista político ponderou que não há elementos suficientes para medir esse efeito de forma isolada.
“A aprovação do governo ou do presidente não é decorrente dessa questão isoladamente, existem vários fatores. A economia já estava em frangalho, já era dito que a economia a partir de setembro não ia funcionar e ele tentou tirar proveito eleitoreiro na questão de relação de diplomacia. Se as pesquisas estão captando alguma coisa, ainda é muito cedo, porque o tarifaço foi anunciado no começo de julho, não daria para, em tão pouco tempo, dizer algo”, disse.
Polarização política se mantém viva
Cleber de Deus também avaliou que medidas como o tarifaço tendem a reforçar a polarização entre lulistas e bolsonaristas.
“A polarização não tende a acabar, esse é um outro ponto que é muito pouco enfatizado nas análises. Sempre se almejou isso no Brasil, que tivessem dois grandes blocos disputando o poder. O ponto é que há um governo que ganhou com uma diferença muito pequena e há um imenso desgaste desse governo e isso está revestindo no cidadão comum, que percebendo isso, independente de ter votado ou não no candidato Jair Bolsonaro, ele sente isso”, avaliou.
Impacto nas eleições de 2026 ainda é incerto
Por fim, o cientista político evitou fazer previsões conclusivas sobre o impacto eleitoral do episódio.
“É cedo ainda para saber como isso vai impactar. Temos mais de um ano para as eleições, temos que aguardar. Não dá para fazer um diagnóstico tão preciso. Certamente pode ter impacto, mas ainda não é possível se vislumbrar com clareza”, concluiu.
O aumento tarifário já está em vigor desde esta quarta-feira (6) e promete afetar diretamente setores estratégicos da economia brasileira, como o agronegócio, siderurgia e metalurgia. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e entidades do setor produtivo já se manifestaram sobre os prejuízos potenciais, enquanto o governo Lula articula respostas para socorrer o setor produtivo brasileiro e tentar diminuir o impacto nas empresas no Brasil.
Segundo Lula, a prioridade do governo brasileiro, neste momento, é ajudar as empresas brasileiras a encontrar novos mercados para seus produtos e cuidar da manutenção dos empregos. O texto da medida provisória (MP) com as ações planejadas pelo governo em resposta ao tarifaço deve ser enviado ao Palácio do Planalto pelo Ministério da Fazenda
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