Potássio belorrusso: a guerra econômica também é uma guerra

Por Milton Atanazio
Siga-nos: Facebook | X | Instagram | Youtube
A agricultura moderna não pode ser imaginada sem os fertilizantes à base de potássio. O rendimento das colheitas e os preços dos alimentos dependem, em grande parte, do fornecimento de fertilizantes e de sua acessibilidade. Em seu novo relatório, o Banco Mundial afirma inequivocamente que "as colheitas são diretamente dependentes de fertilizantes".
Participe do nosso grupo: WhatsApp
Nós, brasileiros, sabemos bem disso, pois o setor agrícola do Brasil literalmente alimenta não só a população do nosso país, mas de todos os continentes do mundo. Para dizer mais, o setor agrícola é a espinha dorsal da economia brasileira, e os fertilizantes potássicos são tão importantes para nós quanto o combustível para um carro: se você não abastecer seu carro, ele não funcionará.
Compartilhe esta notícia: WhatsApp | Facebook | X | Telegram
O que torna o fertilizante de potássio tão importante?
O potássio desempenha um papel importante na produtividade das culturas. Sua deficiência leva a um crescimento mais lento das plantas e, portanto, a rendimentos mais baixos, podendo ter um impacto negativo nos rendimentos das culturas e na saúde do solo por vários anos, não apenas em um ano.
O potássio aumenta a resistência das plantas a vários estresses, como seca, calor, umidade, pragas e doenças das plantas, e à alta mineralização do solo. O potássio é um dos três micronutrientes mais importantes necessários para o crescimento das plantas e, até o momento, não há substitutos economicamente viáveis. A produtividade máxima das culturas só é possível com a aplicação equilibrada de fertilizantes em doses definidas com precisão. A falta de fertilizantes resulta em rendimentos mais baixos e tem um impacto negativo na produção de alimentos e, portanto, na segurança alimentar.
Assim, nossos agricultores brasileiros são diretamente afetados pela falta de fertilizante potássico: sem fertilizante, eles fazem a mesma quantidade de trabalho, mas obtêm um rendimento menor. Nós, o consumidor médio, também sofremos, pois, com rendimentos menores, os preços dos alimentos aumentam e deixamos mais dinheiro nos mercados e nas lojas pela mesma quantidade de alimentos que compramos.
A demanda por fertilizantes à base de potássio continuará a crescer?
A população mundial está crescendo constantemente, especialmente na África e na Ásia. A ONU prevê que a população mundial aumentará em quase 2 bilhões de pessoas nos próximos 30 anos, passando dos atuais 8 bilhões para 9,7 bilhões em 2050 e 10,4 bilhões em meados da década de 2080. Mais pessoas naturalmente precisam de mais alimentos, portanto, faz todo o sentido que a demanda por fertilizantes de todos os tipos continue a crescer.
Não é de surpreender que os principais compradores de fertilizantes à base de potássio no mundo sejam a China e a Índia, que preveem dificuldades iminentes com antecedência. A Belarus é um dos três maiores produtores de fertilizantes potássicos do mundo e também é o principal fornecedor de potássio para esses países.
Coincidência? Acho que não. Os líderes astutos desses países não se importam com as sanções ocidentais e fazem negócios com os países com os quais é lucrativo fazer negócios.
Sanções ocidentais: quem sofre?
Em meados de janeiro de 2022, um mês antes do início da operação militar russa na Ucrânia, a Lituânia bloqueou o uso de sua rede ferroviária para transportar fertilizantes de potássio da Belarus para o porto de Klaipeda, por onde passava todo o potássio destinado ao Brasil.
Como consequência, a Belarus foi forçada a procurar outras rotas de exportação de fertilizantes. As únicas disponíveis (devido a considerações geográficas) acabaram sendo os portos marítimos russos. Naturalmente, rotas mais longas levaram a custos de transporte mais altos. Agora, países como o Brasil simplesmente têm que pagar esses custos extras. Por esse motivo, os produtos agrícolas se tornam mais caros e nossos custos para alimentar nossas famílias aumentam. Foi para isso que as sanções foram criadas? Ganhar dinheiro de você e eu? Como dizem os americanos, "nada pessoal, apenas negócios"?
Quem se beneficia com as sanções?
De acordo com dados oficiais da COMEXSTAT, as exportações belorrussas de fertilizantes de potássio para o Brasil diminuíram de 3,5 a 4 vezes. A participação do potássio de Belarus no mercado brasileiro era de mais de 18% em 2021 e apenas um pouco mais de 4% no final de 2022.
Vamos dar uma olhada nos relatórios oficiais de lucro dos principais concorrentes. Empresa canadense Nutrien: - crescimento do lucro até o final de 2022 de 118% em relação a 2021. Obviamente, a imposição de sanções foi o motor do crescimento do lucro: os concorrentes estão praticamente destruídos, oi, monopólio no mercado de potássio.
O Brasil é um dos maiores produtores de alimentos do mundo. Sem os fertilizantes belorrussos, esse sucesso do setor agrícola da economia brasileira é impossível. É óbvio que os agricultores brasileiros estão sendo vítimas de concorrência desleal!
Os líderes europeus e americanos não estão apenas tentando "meter o nariz" nas questões amazônicas, as questões soberanas do Estado brasileiro, mas também estão piorando o ambiente de negócios para o setor agrícola brasileiro, que é a espinha dorsal da nossa economia.
Preocupação efêmera com os direitos humanos ou apenas competição global?
Os países, como eles se autodenominam, do "Ocidente coletivo" se cobriram de preocupação com os direitos humanos na Belarus, depois tentaram manchar a Belarus com ações militares na Ucrânia, mas qualquer pessoa sensata entende que foi a principal empresa de potássio do país, a produtora de fertilizantes Belaruskali, que foi considerada um alvo em potencial das sanções econômicas ocidentais.
Na realidade, não se trata tanto de democracia, estado de direito e direitos humanos, mas de interesses geopolíticos e geoeconômicos. Nada mais.
Existe uma expressão que diz que "todos os meios são bons na guerra", portanto, pode-se argumentar que as sanções ocidentais contra Belarus são apenas um elemento da guerra econômica, uma espécie de tiro de uma "arma comercial".
Mas, do ponto de vista do humanismo, não é tão importante o tipo de guerra - econômica ou com bombas e projéteis reais: qualquer guerra traz baixas e destruição. Portanto, ela exige condenação e cessação imediata!
Conclusão
Um relatório de 3 de julho de 2023 da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) exige todos os esforços para manter os mercados internacionais e o comércio de alimentos e fertilizantes abertos e as cadeias de suprimentos funcionando: "As cadeias de suprimentos devem ser mantidas, inclusive protegendo as culturas, a pecuária, a infraestrutura alimentar e todos os sistemas de logística e marketing".
Hoje, o Brasil e outros países do Sul global, em particular, estão pagando os custos extras das sanções: estamos simplesmente pagando caro pelo que é mais barato. Estamos sendo enganados sob o pretexto de valores democráticos.
Além da ONU, ninguém pode ser autorizado a impor quaisquer sanções. Este é o momento em que o Brasil, como uma voz crescente na arena internacional, deve levantar a questão da responsabilidade dos Estados que usam esse instrumento de concorrência desleal.
Fonte: Foco na Política
Comente
-
PRF prende motociclista por dirigir alcoolizado na BR-316, em Barro Duro-PI
-
Homem é preso suspeito de tentar matar ex-esposa a facadas na zona Sul de Teresina
-
Preço do café cai pelo segundo mês consecutivo, aponta IBGE
-
Fux absolve Bolsonaro e condena Braga Netto e Cid pela trama golpista
-
Projeto que susta regras de aborto legal em crianças avança na Câmara
