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O registro inédito de uma ave em Timon (MA) coloca novamente o município no mapa da observação e conservação da avifauna brasileira: trata-se do pica-pau-da-taboca (Celeus obrieni), também conhecido como pica-pau-do-Parnaíba, uma das aves mais raras e emblemáticas do cerrado. O achado foi realizado pelos colaboradores do COPA Sítio Tamboril — Colaborativo de Observação e Pesquisa de Aves, representado por Alexander Galvão, Alexandre Adad e Felipe Dourado, durante atividades de observação na zona rural do município.

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A espécie, considerada endêmica do Brasil, foi descrita pela primeira vez em 1926, em Uruçuí (PI), às margens do Rio Parnaíba, mas desapareceu por oito décadas até ser redescoberta em 2006, no Tocantins. Desde então, avistamentos seguem sendo raríssimos, restritos a fragmentos preservados do cerrado em estados como Maranhão, Piauí, Goiás, Tocantins, Mato Grosso e sudeste do Pará.

Foto: Alexandre Adad

O pica-pau-do-Parnaíba depende de habitats muito específicos, associados a formações florestais como matas ciliares, cerradões e áreas úmidas com presença de bambuzais (tabocais, Guadua paniculata). Nesses ambientes encontra alimento, principalmente formigas, e locais para nidificação. Estudos apontam que a espécie necessita de áreas de aproximadamente 250 hectares para sobreviver, e que dificilmente cruza extensas áreas desmatadas, o que intensifica o isolamento populacional.

Mas a alegria do achado veio acompanhada de grande preocupação. O tabocal que abriga essas espécies sofreu recentemente um incêndio que devastou cerca de 70% da sua área, reduzindo drasticamente o habitat disponível. O problema se agrava diante do avanço acelerado do agronegócio na região, que já converteu extensas áreas próximas em plantações e pastagens. Essa combinação de fogo e desmatamento ameaça de forma imediata não apenas o pica-pau-do-Parnaíba, mas todo o conjunto de espécies que dependem desses ambientes.

Foto: Alexander Galvão

Além do pica-pau-do-Parnaíba, no mesmo tabocal em Timon já foram registradas outras espécies de interesse ecológico, reforçando sua importância como refúgio da biodiversidade. Entre elas estão a viuvinha (Colonia colonus), a cigarra-preta (Asemospiza fuliginosa), o poiaeiro-de-sobrancelha (Ornithion inerme) e a marianinha-amarela (Capsiempis flaveola) — aves típicas de ambientes preservados e que ajudam a indicar a qualidade ecológica da área.

O registro em Timon ganha ainda mais relevância diante do status de ameaça de extinção. Para o COPA Sítio Tamboril, a presença do pica-pau-do-Parnaíba reforça a necessidade de criação da APA das Nascentes, uma área de preservação ambiental em discussão no município.

“Dentro dos limites dessa futura unidade, já foram identificados locais de altíssimo valor para a preservação, que precisam receber regras mais restritivas de uso, garantindo a sobrevivência de espécies sensíveis e raras”.

“Encontrar o pica-pau-do-Parnaíba em Timon é a confirmação da importância ecológica da região e um alerta para a urgência em conservar e preservar os fragmentos de matas nativas ainda existentes no município. Sem proteção efetiva, espécies como esta podem desaparecer em pouco tempo”, destacou o grupo.

O registro do pica-pau-do-Parnaíba em Timon é, portanto, um chamado para a sociedade e os gestores públicos sobre a responsabilidade de manter vivo o cerrado, um dos biomas mais ricos e, ao mesmo tempo, mais ameaçados do Brasil.

Por Alexander Galvão

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