
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA O COMERCIO EXTERIOR NO BRASIL APÓS O TARIFACO

A guerra comercial deflagrada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impôs ao Brasil um rastro de prejuízos e uma lição urgente. No que concerne ao mercado internacional, o Brasil está entre as nações mais fechadas do planeta inibindo as importações enquanto os outros ampliavam a integração internacional, perdendo a relevância no mercado internacional. Na realidade, o Brasil nunca fez devidamente sua lição de casa no campo do comércio exterior.
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O Brasil, que desde os anos 1950 apostou no modelo de substituição de importações, tornou-se um exemplo eloquente de como essa estratégia fracassou no longo prazo. A produtividade, indicador que mostra quanto cada trabalhador é capaz de gerar em bens e serviços, está praticamente estagnada desde 1980, e a renda avança em ritmo lento. De 1980 a 2024, o PIB per capita do país caiu da 51ª para a 62ª posição no ranking mundial. Nesse mesmo período, a participação da indústria no PIB encolheu de 30% para 10%. Apesar de ser hoje a décima maior economia do planeta o Brasil ocupa apenas o 25º lugar entre os maiores exportadores e o 27º entre os que mais importam, com uma fatia de 1,5% no comércio global — é uma proporção que não condiz com o seu tamanho e que o faz destoar dos demais países.
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Desde 6 de agosto metade de tudo que o país exporta para o mercado americano está pagando a nova tarifa de 50%. Até o ano passado, essa alíquota era, em média, menor do que 3%. Os prejuízos estão nos milhares de empresas nacionais que começam a perder vendas conforme os clientes americanos suspendem as encomendas com preços remarcados.
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O apelo à proteção da produção nacional é compreensível e, em maior ou menor grau, praticado por todas as nações. O problema surge quando essas barreiras são usadas em excesso e por tempo prolongado, como foi o caso do nosso pais, um protecionismo made in Brasil.
Segundo dados da Fundação Getúlio Vargas FGV, a corrente de comércio do país, que soma exportações e importações e expressa seu nível de integração às cadeias globais, equivale a apenas 36% do PIB. É a 9ª (nona) menor proporção entre 140 nações, numa lista encabeçada por Sudão, Etiópia e Haiti. Outro retrato do isolamento está nas barreiras alfandegárias: a tarifa nominal média cobrada sobre produtos importados é de 13,5%, a 15ª mais alta entre 190 países monitorados pela Organização Mundial do Comércio (OMC). Além disso, o Brasil figura entre os campeões no uso de barreiras não tarifárias, como licenças e exigências sanitárias adicionais para importados — são regras mais rígidas até do que as da União Europeia. No campo da integração global, ocupamos as últimas posições: desde a criação da OMC, em 1995, cerca de 400 acordos comerciais foram firmados no mundo, mas o Brasil só assinou um de peso, o do Mercosul.
As principais falhas do comércio exterior brasileiro incluem uma logística deficiente (custos elevados de transporte, infraestrutura precária de portos e estradas), um complexo sistema tributário que eleva o custo dos produtos, e uma burocracia excessiva e morosa, incluindo a falta de padronização e de investimentos em tecnologia. Há também uma baixa competitividade em produtos de maior valor agregado, devido à concentração das exportações em commodities, e pouca qualificação da mão de obra para o setor, o que dificulta a inserção estratégica do Brasil nas cadeias globais de valor
Faz-se necessário novos acordos comerciais para abrir rotas aos produtos que perderão espaço nos Estados Unidos, onde os países que conseguirem se integrar mais rapidamente a novos mercados, com cooperação tecnológica e sem risco de desindustrialização com este novo geo posicionamento politico, buscando encontrar o ponto de equilíbrio nas relações comerciais.
A promessa de novas parcerias comerciais entrou no pacote de medidas anunciado pelo governo para aliviar o impacto da tarifação nas empresas. O problema é histórico, fruto de erros de vários governos.
Valmir Martins Falcão Sobrinho
Economista e Advogado
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